R – O campeonato português aproxima-se do seu final. Quem é, para si, o principal candidato ao título?
CC – Neste momento há dois candidatos, Benfica e FCPorto. Ambas as equipas são bastante fortes mas ao mesmo tempo apresentam debilidades, como todas. O FCPorto encontra-se a disputar a Liga dos Campeões e este facto pode vir a pesar na altura das decisões. Quanto ao Benfica, tem perdido terreno nas últimas semanas. Eu diria que ambos vão no arame sem rede, quem se desequilibrar agora pode não conseguir subir para o arame outra vez.
R – E o Sporting?
CC – Se o Sporting terminar o campeonato em terceiro lugar e conseguir vencer a Taça de Portugal, fará, na minha perspetiva, uma boa temporada. Será o subir de mais um degrau com consistência. Para a próxima época penso que pode aspirar a fazer um pouco melhor do que isso. A gestão das expectativas no clube será fundamental nos tempos mais próximos.
R – Tem acompanhado o futebol português. Há diferenças desde que saiu?
CC – Há muitas diferenças num ciclo tão curto. A crise financeira que assolou o país teve grande impacto nos clubes. O primeiro a reagir às dificuldades foi o V. Guimarães. E como fez? Virou-se para dentro e fez uma aposta clara nos jovens da academia. Foi de tal forma bem-sucedido que venceu a Taça de Portugal, com um excelente trabalho do Rui Vitória. O Sporting continua a fazer a política de aproveitamento dos talentos da sua academia de uma forma bastante consistente.
«V. Guimarães foi o primeiro a reagir às dificuldades»
R – E o que dizer sobre o Benfica e o FCPorto?
CC – O Benfica vende muitos dos seus jovens sem passarem sequer pelo patamar de afirmação da primeira equipa; no FCPorto apareceu o Rúben Neves e começa a despontar o Gonçalo Paciência. Quase todos os clubes da 1.ª Liga jogam hoje com jovens da sua formação. Isto é sem dúvida uma mudança de paradigma e confirma o que digo há muitos anos: o jogador português tem enorme talento. Quem beneficiará certamente com tudo isto é a Seleção Nacional.
R – De que forma a mudança de paradigma influencia o treinador?
CC – O treinador deve perceber a mudança e adaptar-se às novas exigências. Tem de perceber que os clubes precisam de potenciar os seus jovens e ao mesmo tempo existe a necessidade de vender ativos para que os clubes sejam sustentáveis. Isto implica um bom planeamento e muita coordenação com a administração, de forma a manter as equipas competitivas.