A história do miúdo introvertido que fugia às pancadas
«Há alguma surpresa pelo apagão que teve. Qualquer jogador precisa de continuidade para ter rendimento. Só assim pode atingir o que tem para dar. O Rafa tem potencial para isso. O último ano não foi o que ele pensava e tenho a certeza de que o Rafa não ficou satisfeito», conta Luís Trincalhetas. O vice-presidente dos ribatejanos não fala com ele há algum tempo e acredita que o dinheiro envolvido na transferência pesou na falta de rendimento: «Sempre foi um miúdo introvertido e aquele aparato da transferência não é fácil. Jogar no SC Braga não é a mesma coisa que jogar no Benfica. Acredito que isso o pressione. Mas continuo a acreditar que vai mostrar porque é que o Benfica pagou o que pagou por ele.»
«Era uma fraca figura do ponto de vista atlético. Foi quase sempre o jogador mais baixo em campo até aos juniores. Mas tinha enorme capacidade de execução e rapidez», lembra Luís Trincalhetas, 54 anos, informático e antigo atleta do Alverca. O dirigente hoje ainda vê em Rafa algumas características em campo daquele miúdo magrinho, que fintava tudo e procurava fugir às pancadas.
«A maior capacidade é a de antecipar o que vai acontecer. Quando recebe a bola, tem quatro opções pensadas, e decide sempre a melhor. É rápido a jogar, muito mais rápido a decidir. Decidiu-me tantos jogos»
«Não sei se foi por ser pequeno. Disseram-me que gostaram dele, mas que tinham muitos jogadores com as mesmas características»
«Ele tem um excelente ambiente familiar. É um miúdo que não cria expectativas, depois não cai em depressão»
«Ficou um bocado torcido comigo. Se fosse para um clube com outra dimensão tudo bem, mas o Sacavenense, com todo o respeito, não tinha a mesma expressão», refere. Rafa ficou zangado com ele, mas tudo mudou duas semanas depois. «Apareceu um empresário com uma proposta do Feirense. Era outra realidade e concordámos.»
«Não foi fácil chegar a acordo», acrescenta Fernando Orge, presidente do Alverca, a A BOLA. Parece mentira, mas o jogador que custou €16,7 milhões saiu do Alverca por cerca de 20 mil euros. «Mas ficámos com dez por cento de uma futura venda e rendeu mais [n.d.r mais 30 mil euros] quando foi para o SC Braga», refere Trincalhetas. As pazes entre jogador e dirigente foram feitas em Belgrado, quando o vice-presidente foi à Sérvia ver o jogo de Portugal, em 2015: «Acabámos por ter uma influência enorme no percurso dele. O Rafa é uma bandeira do clube.»
«Tínhamos a perfeita noção que ia dar o salto»
«O Benfica teve vontade de resolver cedo essa questão. Foi um valor considerável para a realidade do Alverca, suporta muitos anos da formação. Queremos potenciar mais Rafas. Era bom formar um Rafa de três em três anos. Melhor era formar um por mês»
«É onde influencia mais o jogo. Basta olhar o que fez o Rui Jorge com ele nos sub-21. O Rafa consegue arranjar uma solução numa cabine telefónica»
«O percurso dele é completamente anormal. A primeira internacionalização é nos sub-21. Sai dos juniores do Alverca, faz um ano de júnior e outro de sénior no Feirense, segue para Braga e Mundial. Depois Europeu. Foi de júnior do Alverca ao Mundial em três anos. Foi um foguetão»