O internacional português Nuno Gomes, que quando encerrou a carreira de jogador no Benfica passou a braçadeira de capitão dos encarnados a Luisão, que irá oficializar ao final da tarde desta terça-feira também o adeus aos relvados, não tem pejo em recordar as caraterísticas de «líder nato» do defesa-central internacional brasileiro mesmo quando ainda não era um dos capitães encarnados, e garante que Jardel e Rúben Dias, na mesma posição, também desempenham a liderança em campo a contento.
«Tenho saudades de tudo o que diz respeito a jogar futebol, e de ser cromo da bola, como se costuma dizer. Mas tenho mais saudades do cheiro da relva e dos companheiros do que de jogar. Também gostava de ver o meu crono nas cadernetas»
«Esta coleção ainda faz sentido. A introdução das novas tecnologias não veio ocupar espaço a esta caderneta. É diferente ter um cromo físico, na mão, o ritual de o colar, o estar à espera de determinado cromo e ele demorar a sair. E é também o momento de descontração e de agregação entre amigos e familiares. Ainda apanhei a fase em que os jovens vinham ter com os jogadores com os cromos e nos pediam para autografar por cima. É giro, fica uma coleção ainda mais importante»
- Luisão foi um dos ‘cromos’ mais importantes do futebol português nos últimos 15 anos?
- Sim. Resta-me agradecer ao Luisão tudo aquilo que fez pelo Benfica e pelo futebol português, também. Porque foi e é um jogador que é um exemplo, também, daquilo que é ser-se profissional de futebol. É um exemplo que podemos indicar aos mais jovens para seguir, pois tem uma história muito bonita ao serviço do Benfica e é um jogador que atravessou o Atlântico para vir à procura de um sonho, de uma carreira, e conseguiu-o. Por isso, resta-me, como antigo colega e como amigo, dizer-lhe muito obrigado por aquilo que fez pelo Benfica e pelo futebol português, e desejar-lhe as maiores felicidades para a sua vida.
- Luisão chegou a capitão herdando de si a braçadeira…
- É verdade. Foi na altura em que deixei de jogar que o Luisão começou a ser capitão. Mas pela sua forma de ser e personalidade, já então muitas vezes não usava a braçadeira mas fazia parte do grupo de capitães. Não só pela sua posição, não só pela sua altura [risos] mas por aquilo que muitas vezes dizia e pensava: era um líder nato.
- Luisão deixa um legado difícil de preencher. E em termos de campo…
- Sim. O futebol, como em tudo na vida, tem um princípio, meio e fim. O Luisão vai iniciar outras tarefas, pelo que sabemos. Arranjar quem o substitua nunca é fácil, mas há sempre 11 jogadores, as equipas vão continuar a entrar em campo com 11 e não com dez. Mas em termos de liderança, creio que, se calhar, o Jardel estará a corresponder muito bem. Olhando para o futuro, na mesma posição, o Rúben Dias, se calhar: também já foi capitão durante muitos anos nas camadas jovens do clube e na própria Seleção, por isso poderá ser ele um dos sucessores do Luisão, não só em termos de braçadeira mas na posição em campo. Mas não estando no dia a dia no balneário, fica mais difícil saber quem será o próximo capitão: isso é uma escolha da direção e do treinador do clube.
- Gedson e João Félix vão ser os futuros ‘cromos’ de referência do Benfica?
- Já o são [risos]. Não há volta a dar. Inclusive estão na caderneta desta época. Quem fez o trabalho de casa para os nomes que iriam sair na caderneta também aposta neles. Tanto um como o outro, mais o Gedson porque tem mais minutos jogados, têm mostrado as suas capacidades e o potencial que têm. Apesar de jovens, estão a dar cartas junto dos mais velhos e vão, com certeza, ser mais dois craques no futuro.
- Quando era responsável no Caixa Futebol Campus, no Seixal privou de perto com João Félix, na formação, juvenis e juniores. Que nos pode adiantar da revelação da águia esta época?
- Vocês têm visto, momentos aqui e ali. Apesar de ter tido pouco tempo de utilização, pois não deixamos de estar a falar de um jovem que está a fazer a sua primeira época como sénior. Mas seja no jogo com o Sporting, em que entrou vindo do banco de suplentes e fez um golo, seja agora no último jogo [Aves], em que jogou de início e voltou a fazer outro golo, com um gesto técnico que mais parecia um jogador maduro ou mais experiente… é um jogador maduro e acima da média, em termos técnicos. Parece que tem uma vantagem, que é pensar um bocadinho mais rápido que muitos outros jogadores. Hoje em dia, essa velocidade de pensamento também é importante, até para combater as fragilidades físicas que hoje em dia apresenta, comparando com jogadores mais fortes fisicamente. Mas no futebol muitas vezes o físico nada quer dizer: se tivermos talento, a tudo se sobrepõe.
Cristiano Ronaldo merecia The Best e vai lutar pelos próximos!
- Modric venceu o Prémio The Best da FIFA, Cristiano Ronaldo ficou em segundo. Acha que é justo ou o português deveria ter ganho, que é uma derrota do futebol português?
- Encarar como uma derrota não diria, é uma palavra demasiado forte. É sempre muito subjetivo. O Modric, o Salah também fez uma excelente época, o Cristiano também ganhou tudo o que havia para ganhar, só em termos de Seleção é que ficou um pouco aquém daquilo que nós esperávamos que a nossa Seleção pudesse fazer. Mas relembro que quem vota são os selecionadores, são os jornalistas, e são os capitães das seleções. Por isso… desta vez votaram assim. Não sei se é merecido ou não, sinceramente não tenho uma opinião muito bem formada. Sei que o Cristiano, se ganhasse, estava bem entregue! E tenho pena que ele não tenha ganho, mas estou convicto que vai estar ainda na luta nos próximos anos pelo prémio!