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«Dói-me o joelho todos os dias. Tenho de o tratar até morrer»



«Mágoa não. Há coisas que sucedem na vida profissional e pessoal que temos de aprender a aceitar. O final de carreira é um momento para o qual um futebolista se vai preparando, porque a profissão não é normal, no sentido em que poderia demorar uma parte considerável da vida, como ser jornalista, por exemplo. Há essa noção logo desde o início da atividade, a certeza de que só vamos fazer aquilo durante 10, 15, 16, 17 anos… Eu apenas terminei mais cedo devido a lesões», diz o antigo avançado angolano, que não esconde a saudade de pisar o relvado: 

- Muitas, muitas. É angustiante ver o Benfica jogar e não poder fazer nada para ajudar. Ser ex-jogador é difícil. Mas a vida continua. 
Mantorras explica como foi acordar um dia de manhã e não ir para o treino.

- Dificílimo. Já tinha a rotina preparada, claro. É mais ou menos como perder de repente uma segunda família, tanta gente ao mesmo tempo, toda aquela malta no balneário, os colegas, os treinadores, os funcionários do clube. Tudo isso vai assim, de um momento para o outro. É uma alteração arrebatadora. Para lutar com isso busca-se o conforto da outra família, a verdadeira. No meu caso, ajudaram-me os meus filhos e as minhas irmãs. 

Psicologicamente ficou abalado: «Numa tristeza profunda. Entrei um bocadinho em depressão.» Teve acompanhamento médico, mas precisou de ser medicado: «Não cheguei a esse ponto. Muitos ex-jogadores de futebol precisam de ouvir, nessa altura, que a vida não acaba ali. E vais, aos poucos, percebendo que há outras coisas que melhoram.»

Só o joelho é que não tem melhora: «Dói-me todos os dias. Acho que vai doer-me para sempre. Sobretudo quando muda o tempo. Tenho dificuldade em dobrar os joelhos e até os pés, sobretudo no inverno. Há problemas sérios na cartilagem. Olhe, até quando ando de avião me dói.»